7.5.06

Aestuans intrinsecus

[Valentin de Boulogne - São João Baptista]

a A.

É aqui que vivo. Era um anexo, num quintal. Um quarto, era tudo. Escuro. Um calor abafado oprime-me a respiração. Pergunta-me se gosto da "casa". Gosto. De ti. Sentamo-nos na cama, não há cadeiras. Tento resistir a mim mesmo. Não falamos. Ambos sabemos ao que vimos. Sem ter sido preciso dizê-lo. Mas eu não quero. Não. Eu quero. Mas tenho medo. O que tens? O suor encharca-me o corpo. Calor sufocante. Como consegues dormir aqui? Habituei-me. Nova pausa. Longa. Não dizemos nada. Durante intermináveis minutos. Ardo por dentro. Olha-me significativamente. Estás a pensar em quê? Não respondo. Sinto-me desfalecer. O calor ardente. O ar pesado. Deito-me, sem forças. Interpretou isto como um assentimento. Inclina-se devagarinho sobre mim. Olhos nos olhos. Sinto-lhe os lábios ardentes por toda a cara, até encontrarem os meus. As mãos percorrem-me o peito abrasado. Entrego-me. Sem resistência.

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